Empatia nada mais é do que quando observamos algum tipo de dor no outro indivíduo, e isso nos traz lembranças de quando, de alguma forma, nós próprios passamos por algum tipo de dor similar à apresentada pelo outro indivíduo. Essas lembranças nos trazem uma dor própria em nós. A todo esse processo, nós chamamos de empatia. É um processo irracional básico que fomos adquirindo ao longo do processo evolutivo, que nos permitiu que pudéssemos desenvolver um sentido de união, conexão e um sentido mais profundo de sociedade.
Perante essa dor, após todo o processo empático, nós tomamos, normalmente, uma escolha de duas possíveis opções. Ou tentamos minimizar a dor do outro com ações, ou nos afastamos. Muitas das vezes, física e emocionalmente. Quando optamos pela segunda opção, nós agimos de uma maneira à qual corriqueiramente apelidamos de "forma altruísta". Mas não seria o altruísmo um ou um conjunto de atos em prol de outro indivíduo, ignorando a nós mesmos, ou ao nosso ego?
Mas todas as ações ditas altruístas normalmente vêm do sistema empático, que finaliza numa dor que sentimos dentro de nós quando reconhecemos a dor do outro. Esses atos de ajudar a dor do outro nada mais são do que ações para minimizar a nossa própria dor trazida pelo sistema empático presente em nós. A prova disso é que os psicopatas, pessoas que têm o sistema empático bem "atrofiado" ou inexistente, não sentem a dor neles mesmos após a observação da dor do outro e não se sentem impelidos a agir em prol do outro porque não sentem a dor dentro de si. Outro exemplo são dores que achamos que são pequenas demais, como um TikTok que saiu mal e a pessoa ficou triste. Como não temos nenhum tipo de lembrança que nos traga dor em relação a isso, não temos a nossa dor ao ver a dor real do outro. Por isso, afastamos física e emocionalmente a pessoa e viramos as costas.
Por outras palavras, altruísmo sempre está acompanhado de egoísmo. Mas egoísmo raramente traz altruísmo. Os dois não são antagônicos, porque, como podemos ver, eles podem — e andam — muitas vezes de mãos dadas.
O que seria, então, o altruísmo 100% puro? O altruísmo sem o egoísmo...
Altruísmo Puro seriam atos de bondade a quem não precisa do bem que foi feito e que não demonstrasse qualquer tipo de agradecimento, seja a nível verbal ou físico. Um exemplo seria dar 10 euros a um milionário que os aceitaria sem expressar nenhum tipo de expressão facial e talvez até encolhesse os ombros, e depois até te ignorasse após guardar esse dinheiro. Foi um indivíduo que não demonstrou nenhuma dor, por isso o sistema empático não atuou em nós; então, não sentimos a dor inicial. Mas fizemos o bem porque sim, foi um ato benéfico para o outro indivíduo, que não precisou e que não agradeceu, pois, se tivesse agradecido, nós teríamos sentido um pouquinho bem em ver o outro feliz. Então, nós só perdemos com esta atitude nossa, o outro só beneficiou, e foi um ato voluntário da nossa parte. Isto sim é um ato de Altruísmo Puro.
No entanto, não faz sentido nenhum agir desta forma. O que nos leva a refletir: será, então, que tudo o que fazemos tem que nos beneficiar de alguma forma? A resposta, para mim, é clara: sim, claro que sim. E isso é bom. Não existem bem e mal. A natureza nos fez ser autopreservantes, ter a habilidade de nos autopreservar. Ou seja, física e psicologicamente, o mais saudável possível. Cuidar das nossas questões emocionais é um ato de preservação também.
Egoísmo e empatia são a base das trocas, das alianças, da ideia de dois ou mais indivíduos beneficiarem em conjunto. Não há mal nenhum em nós fazermos bem enquanto fazemos o bem.
Esta apenas é a leitura da realidade. Ajuda a evitar hipocrisias morais e a refutar o mito de que quem fornece emprego é um explorador do que exerce o trabalho em si. Pois, neste caso, como aquele que dá comida ao mendigo, os dois estão a agir em prol do outro (altruísmo), mas também em prol de ganhar algo benéfico para si mesmo (egoísmo).

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